sexta-feira, 3 de julho de 2009

O cachorro malhado

Existem fatos que não saem da memória da gente, são principalmente os acontecimentos da infância. Época dourada de lembranças acalentadoras de um tempo que não volta mais, por mais que evoquemos. Os dias ensolarados, o vento cortante, as geadas no inverno, o verão muitas vezes abrasador, o chiado das cigarras, o canto dos passarinhos.
Vou relatar uma lembrança que muito me tocou a infância, e é uma história verídica:
Certo dia apareceu em casa um animal desgarrado, um cachorro da raça perdigueiro, daqueles de orelhas grandes e caídas, tipo malhado: branco com manchas pretas pelo corpo, cujo latido é mais para um uivado, que impressionava bastante a gente à noite, parecendo o uivo de um lobo... Chamou a atenção por não ser um vira-lata quaisquer que sempre costumavam aparecer geralmente vindo dos vizinhos próximos. Aquele cachorro tinha algo de especial, pois não o tínhamos visto nas redondezas e não conhecíamos o dono. Mas o que chamava a atenção da gente é que o cachorro estava muito doente e mal cuidado. Apresentando grande ferimento na região do pescoço: Profundo, cheirando muito mal e com muitos bichos, oriundos de “bicheira”. Um ferimento exposto que não se cuida principalmente na região rural onde há muita vegetação e moscas é frequentemente infectado por larvas de moscas que no local se desenvolvem e vai destruindo os tecidos. No caso do infeliz cachorro já estava atingindo a região da garganta e certamente o animal morreria da infecção resultante.
O meu pai muito diligente e cuidadoso começou a cuidar das feridas do cão doente, veterinário nem pensar, mesmo que quiséssemos procurar, mas morávamos em região muito distante de qualquer tipo de recursos modernos numa época que os tratamentos eram na maioria caseiros mesmos. Só sei que após muitos cuidados o cão sarou e se revelou um belo animal de grande porte, caçador, e muito alegre. Colocamos nele o nome de malhado e virou o xodó da família. Ensinamos a ele vários truques como a ir buscar qualquer objeto que jogávamos, a deitar quando mandado. Era interessante, pois quando caçávamos passarinhos ele ia buscar a caça muitas vezes em locais de difícil acesso, ele nos trazia na boca sem magoar a caça. Enfim era a alegria da família. Como tudo o que é bom dura pouco, um belo dia apareceu um senhor na casa do papai que era caçador, com parelha de cães, espingarda a tiracolo, apetrechos de caça. E declarou que o animal o nosso malhado era dele, pois já o procurava há tempos. Dissemos das condições que encontramos o animal, doente e mal cuidado. Mas apesar dos protestos tivemos que devolver o cão que não era nosso. Apenas papai fez uma caridade, devolvendo a saúde ao cachorro abandonado. Vimos com tristeza o nosso Malhado ir embora, o que muito nos contristou. Como se diz o que causa alegria hoje, amanhã pode nos trazer tristezas, dependendo das circunstâncias da vida, que é cheia de meandros e voltas. Não sabemos quando a tristeza vai nos atingir. Temos que aproveita-la nos seus momentos bons e nestes momentos colher o que há de melhor. Pois não sabemos em que curvas da existência a tristeza nos atingirá. Ficaram nas nossas lembranças a alegria do Malhado e suas brincadeiras. Temos que agradecer por isto.

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Gosto de escrever, não o escrever por escrever, mas até uma necessidade intrínseca de me expressar, de transmitir algo, um pensamento, com ist0 eu possa despertar algo de bom em meus amigos. Muitas vezes mesmo é meu desejo de comunicação, já como disse uma amiga, sou tímido, então a comunicação verbal direta estaria dificultada, então a comunicação via internet mil vezes potencializada. Diga o que disserem, mas o computador aproximou as pessoas, que muitas vezes estavam distantes, e tinham poucas possiblidades de comunicação. E os "bloguistas" podem então dar asas a sua imaginação e exercitar as suas potencialidades, que terão mais ou menos leitores de acordo com suas possibilidades e capacidades. O meu blog é geral, pois trato de qualquer assunto, moderno, contemporâneo, assuntos atuais, problemas brasileiros e outros tantos.

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